Jaguaribe. O município de Jaguaribe, a 293 quilômetros de Fortaleza,
oscila entre o verde perto do rio e o ocre que dá cor à desertificação.
O problema se agravou, dos anos 1970 para cá, com as queimadas para,
como dizem os nativos, descobrir a terra e prepará-la para a pastagem.
Não poderia haver agressão pior. Embora iniciativas isoladas tentem
mudar o semblante de comunidades como o Brum, os trabalhos esbarram na
tradicional cultura da exploração.
O
técnico extensionista e vice-presidente da Associação Comunitária Sítio
Brum, Francisco Nogueira Neto, o Neto do Brum, conhece bem essa
realidade. Ele conta que há dois anos as ações contra as queimadas se
intensificaram. “Mas os pequenos têm medo”, admite, informando que a
prática consiste em separar a área, varrer, cortar mato e tocar fogo.
No
ano seguinte, o processo se repete, até a terra não suportar mais
sequer produzir pasto para os animais. Aí é mudar de local. Mas o
problema não é só para o bioma da Caatinga. Não é raro, devido à
temperatura mínima de 30 graus centígrados, o fogo se espalhar,
destruir plantações, casas e ameaçar vidas. “O fogo chega a quase dois
metros de altura”, revela, mostrando, sob os pés ou ao longe, valas
vermelhas, sem qualquer vegetação.
Uma das soluções para
trabalhar a terra sem agredi-la, segundo Neto do Brum, é o raleamento,
em que o mato é cortado, mas não se faz queima, se transforma em
matéria orgânica e adubo natural.
O técnico, que trabalha na
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) de
Jaguaribe, afirma que há projeto de transferir solo e sementes do
Serrote da Santa Cruz, que nunca foi queimado, para o Brum, onde até à
beira do açude a terra vermelha dá sinais de desertificação.
De
tanta devassidão, há quem diga que o local é amaldiçoado, mas o próprio
Neto do Brum, conhecedor do lugar, dos moradores e das necessidades da
região, não acredita na hipótese. Prova disso é que algumas comunidades
estão se desdobrando para sobreviver. E estão conseguindo, com a
produção de mel, do famoso queijo que range nos dentes e com o manejo
sustentável. E há comunidades que trabalham a terra com tratores, que
não danificam a terra. Os automóveis são conseguidos através de
programa do Governo Federal. Em Jaguaribe há 16 tratores.