Andreia Fanzeres e Paulo Barreto trazem notícias sobre Amazônia, biodiversidade, fogo, desmatamento e emissões por queimadas.

andreia@oeco.com.br
pbarreto@imazon.org.br

Paulo Barreto

paulogbarreto

paulogbarreto Livro que recomendo para meus assistentes: Estatistica sem matemática - a ligação entre questões e a análise. Muito didático e bem escrito. 4 days ago reply

paulogbarreto @Globo_Rural sugiro reportagem sobre os compromissos que frigoríficos e associação de supermercados assumiram de não comprar boi pirata. 4 days ago reply

paulogbarreto Caso Erenice. Precisamo de 2º turno na eleição para saber o que realmente @dilmabr comandava na Casa Civil. @joseserra_ @silva_marina 4 days ago reply

paulogbarreto @leandrojesus Para evitar queimadas: punir crimes, reduzir custos (ex: impostos) das alternativas ao uso do fogo e treinar prevenção. 4 days ago reply

paulogbarreto Livros: Inteligência emocional e auto-engano de Daniel Goleman me ajudaram a entender limitantes da racionalidade. 4 days ago reply

Banner
< Setembro 2010 >
S T Q Q S S D
    1 2 3 4 5
6 7 8 9 10 11 12
13 15 16 17 18 19
20 21 22 23 24 25 26
27 28 29 30      
Omissão frente às queimadas no MT
14 Set 2010, 12:25
Andreia Fanzeres

Imagem do satélite ResourceSat do dia 23 de agosto, Chapada dos Guimarães (arte ((o))eco)

Quando este ano começou, todo mundo sabia que o Cerrado arderia em chamas como ou pior do que em 2007. Três anos atrás, era tanta fumaça saindo dos incêndios na região do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães que somada à nuvem proveniente do norte do estado, transformaram Cuiabá num paiol venenoso. Por dois meses, o aeroporto da cidade operou com as luzes noturnas ligadas ininterruptamente. Em 2010, parou de chover mais cedo, no início do mês de abril. A vegetação, que não sofreu com muitas queimadas nos últimos dois anos, cresceu dentro e fora do parque. O acúmulo de combustível virou uma bomba-relógio na mão de gente que não consegue relacionar o céu cinza e o ar poluído que respira com o fogo que ateia para queimar folhas e lixo. Dentro e fora da área urbana. Bastou esquentar e a umidade cair para que as ações contínuas da população de atear fogo transformassem o hábito criminoso em catástrofes.

Em agosto, passei uma longa temporada fora de Mato Grosso, o que ajudou a proteger minha filha de apenas 4 meses do ar poluído e da fuligem que diariamente entra pelas portas e janelas da nossa casa. Mas em setembro, precisamos voltar e desde então estamos convivendo com situações vergonhosas e revoltantes.

Desde que mundo é mundo, Brasil é Brasil e Mato Grosso é Mato Grosso, queima-se propositalmente na época mais seca do ano. Seja para renovar o pasto, na inconseqüente ilusão de que a vegetação crescerá mais forte, ou para se livrar de qualquer tipo de coisa que esteja sobrando no quintal dos moradores. Nessa época, acidentes também acontecem. Mas a partir do momento em que se conhece o problema e não são tomadas medidas preventivas, o acidente passa a virar omissão e negligência. Faíscas de motocicletas que provocam erosões em caminhos abertos ilegalmente dentro do parque de Chapada já tinham sido suspeitos de causarem um dos incêndios de 2007. Hoje, em plena seca e com o estado ardendo em brasas, quem diria, os ralis continuam impunemente dentro da unidade de conservação, que foi novamente atingida pelo fogo de forma tão grave que sequer houve tempo de contabilizar os prejuízos.

Há muitos anos, nem o governo federal ou o estadual conseguem dar respostas objetivas a quem pergunta quantas vezes alguém foi multado porque ateou fogo em terrenos baldios ou em imóveis rurais. Muito menos os que provocaram catástrofes em áreas protegidas a partir de seus inocentes incêndios. E onde a impunidade impera, o crime se perpetua.

Neste fim de semana, até o canteiro central de uma importante avenida da turística Chapada dos Guimarães foi consumido pelas labaredas sem que ninguém tomasse nenhuma providência. Nos últimos dias, presenciei diversos terrenos com remanescentes de Cerrado em pleno bairro “nobre” de Chapada também em chamas. E moradores apreensivos observando o fogo durante a noite, torcendo para que ele não crescesse para dentro de suas residências. Disseram que chamaram a polícia. Mas a polícia em Chapada não se dá ao luxo sequer de comparecer aos flagrantes. Parece que fogo não é coisa de bandido. Certa vez, uma moradora me confidenciou que telefonou para a polícia acusando a vizinha de ter ateado fogo. A fumaça invadia sua casa. A polícia teve a pachorra de perguntar se o fogo estava sendo ateado em folhas no quintal da vizinha, como era o caso. Depois da resposta positiva, os policiais disseram que nada poderiam fazer, pois não tinham autorização para entrar na casa da cidadã. Certas atitudes nos fazem questionar se as autoridades sabem mesmo quais são suas próprias atribuições.

Ano passado, ao notar que em pleno mês de setembro haviam posto fogo no terreno vizinho à minha casa, corri com minha família com baldes para tentar apagar. Estava grávida, mas quem se importa? A polícia não fez nada para ajudar. A prefeitura não acha importante ter de prontidão brigadistas treinados para atender à população, conhecendo os incendiários que abriga. E na cidade não há corpo de bombeiros. Simplesmente não há saída para quem vive em Chapada dos Guimarães.

Já este ano, temendo que a situação se repetisse, tive que suplicar para que os trabalhadores que faziam a “limpeza” do tal terreno baldio não tocassem fogo novamente. E dei a eles uma simples sugestão. Carreguem o mato cortado. O que não der para carregar, deixe lá. Para que queimar? Eles coçaram a cabeça e aceitaram a brilhante idéia.

Infelizmente, na semana seguinte, outro incendiário não teve a mesma iluminação. E mais uma quadra inteira do bairro, onde havia Cerrado, virava cinzas. Junto com ela, os fios dos postes. E, minutos depois, o bairro estava sem luz. O fogo se propagou perigosamente para o terreno da companhia de águas da cidade. Avisamos à funcionária que estava de plantão. E à revelia dos estalos que o fogo dava a poucos metros dali e da fuligem que entrava pela sua própria janela, ela confidenciou que a prefeitura sequer tem um caminhão pipa para atender a cidade. Cidade que, além de sem luz, também corria o risco de ficar sem água.

O que se faz com as autoridades que são omissas, negligentes e ausentes diante de varias questões, mas especificamente, do fogo que ameaça todos os anos, cotidianamente, os moradores da região de Chapada dos Guimarães? Olhar para as cidades vizinhas e conformar-se com o fato de que nenhuma outra prefeitura toma atitude mais decente não vai ser de muita valia. Em Mato Grosso, perceber o entorno só ajuda a termos uma noção mais realista da dimensão da irresponsabilidade de quem não maneja suas áreas adequadamente, não previne, não fiscaliza, não pune, não auxilia. Às vezes, nem reclama. Este ano, mais uma vez, as urnas ficarão sujas de cinzas.

Comments (13)

Carregando... Logando...
Fechar

Logar com o seu OpenID

Ou crie uma conta usando o OpenID

  • Logado como
Isto irá doer nos bolsos da arrecadação porque a visitação ao Parna da Chapada já está seriamente comprometida! Então como os interesses financeiros parecem ser a mola mestra dos governantes, talvez seja elaborado o tão necessário plano de contingência para incêndios que toda UC deveria ter. Campanhas e investimentos em educação ambiental sobre os perigos do fogo em época de seca como está são importante ferramenta de esclarecimento a população. Fiscalização e medidas punitivas devidas que doam no bolso do cidadão certamente colocariam fim neste insanidade que assola o país.
1 resposta · ativo 1 semana atrás
Há razão nas colocações suas, em partes... Porém, o problema principal é a gestão dos incêndios na cidade de Chapada dos Guimarães, uma vez que o parque nacional possui brigada própria, que tenta, ao menos, combater os fogos que ameaçam a UC.

Já na cidade, a coisa ficou preta.... muitos focos, e nada feito pelo poder público. Resultado: ar venenoso, umidade relativa do ar cada vez mais baixa, casas queimadas, problemas no abastecimento de água e luz (canalizações e linhas de transmissão queimadas), destruição dos restos de cerrado da área urbana de chapada....

Esperamos que este ano catastrófico, ao menos, sirva de alerta e de "motivação" pro poder público se preparar pros próximos anos.
Quanto mais o meio ambiente, os moradores, cada um deverá sofrer enquanto o fogo queima solto Brasil afora? É uma vergonha a omissão das autoridades sobre este tema!!
É isso aí Andreia!!
Seja a voz deste povo e desta terra que ainda não sabe se expressar.
Vamos soltar as nossas vozes também!!
VALEU ANDREIA !!!
AS PESSOAS DO NOSSO BRASIL NÃO TEM NOCÃO DA DESTRUICÃO !!! VAMOS NOS PROTEGER NOS UNINDO E SOLTANTO A VOZ PRESERVANDO A NOSSA NATUREZA !!
PARABÉNS PELO DESABAFO !!!
MARY ( PRIMA) !!
o descaso das autoridades já não nos espanta mais,mas a incoerencia dos que prejudicam o próprio lugar onde vivem é iinacreditável parabéns Andreia .beijos Anabela
Isso nos mostra o quanto precisamos investir na educação em nosso país, na escola enquanto espaço educacional, capaz de formar cidadãos conscientes e esclarecidos e em campanhas educacionais que promovam o envolvimento e a luta sobre as questões ambientais. Parabéns Andreia ,por não conter sua indignação, por nos chamar a atenção sobre a seriedade do assunto, por revelar o descaso e nessa situação a vergonha que sentimos como brasileiros, frente a negligência e a ineficiência de nossas autoridades! Eliane Freitas
Creio que a culpa não é exclusiva das UCs,o órgão todo se torna responsável,inclusive as CRs que até hoje não mostraram a que vieram!Cobranças e medidas urgentes são necessárias pra mitigação de tais fatos que se repetem ano a ano!
Parabéns Andreia, por estar sempre defendendo a vida no futuro, porque um País que tem muito Verde, será o futuro da vida na terra. Assim todos temos que denunciar qualquer tipo de agressão a esse VERDE.
Beijão. Vania Mara
Obrigado Andreia, por gritar por mim e por outros além de você. Hoje sou artesão que recicla materiais para fazer outros materiais para consumo mas, já fui produtor rural no noroeste mineiro e, sei da intensidade do que você fala. Naquele tempo fiz um poema com linguajar rural e, lhe ofereço para se quiser , usar em alguma campanha. è assim:

QUEIMADA
Òia o fogo lá na mata
Vamos todos pra apagá
Tem muita vida queimando
Não podemos deixá.

Cerca o fogo trabanda
Bota acero ou contra-fogo
Deixe a pele sapecá
Vale o que ocê salvá

Tem muito bicho nas moita
Tem muito ovo nus ninho
Muita madeira boa
Pra nois tudo usá.

Vamos todos correndo
Vamos pra mode salvá
Nossa mãe natureza
Que tudo nos sabe dá.
A nossa indignação
É uma mosca sem asas
Não ultrapassa as janelas
De nossas casas

Eu fiquei indignado
Ele ficou indignado
A massa indignada
Duro de tão indignado
Diante de tudoisso ai que vimos apóis a leitura o centro oste do Brasil está nessa fumaça e um periodo longo sem chuvas como por exemplo o Esta de Goias que a quatro meses não chove e o calor aumenta deixando a todos preocupados (a), a Chapada dos Guimaraes precisa de ajuda urgente, o período das eleições chegarão a hora é essa vamos gritar bem alto cobrando justiça, trabalho e dignidade para viver melhor nesta terra de todos nós. Vamos fazer valer nosso voto de confiança.

Brasil - Bahia

Postar um novo comentário

Comments by