quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Brasil em chamas


Após viajar quase 2 mil quilômetros Brasil afora, do Sul de Minas ao Triângulo, de lá a Belo Horizonte e, finalmente, voltar ao sul mineiro, pude notar como o Brasil tem mudado. De um lado, continua aquele velho decadente esperando pelo futuro chegar, com seus casebres pobres à beira das estradas, revelando que a prosperidade tão anunciada em revistas e jornais ainda chegou a todos. De outro, um lugar moderno, com rodovias que mais parecem estar cravadas na Europa, com casarões, enormes plantações, carros importados e preços de primeiro mundo.
Nestas passagens entre Mata Atlântica e Cerrado, pode-se também notar o quanto o país ainda é rústico, tentando sobreviver a invasão cultural estrangeira, às vezes se misturando a hábitos importados que a tanto tempo que já fazem parte de nossa diversidade antropofágica. Contudo, o Brasil ainda revela os contrastes de um lugar que nasceu e cresceu com o estigma dos latifúndios, outrora demonimados assim, mas agora chamados de agronegócio. Bois e plantações se espalham por todos os lados. As matas nativas, coitadas, mal podem ser vistas. Tirando os trechos de serra, muitos deles também totalmente desfigurados, onde as árvores tropicais deram lugar ao plantio de pinheiros e eucalíptos. Um Brasil quase irreconhecível. De comun, durante a secura de agosto, somente as queimadas. Estas, podem ser vistas por todos os lados, à beira das estradas, nos pastos e até mesmo bem longe, no cume das montanhas. Os responsáveis por isso, talvez nunca saberemos, mas sempre se culpam os fumantes, que deliberadamente jogam as bitucas pelas janelas dos carros, sem pensarem nas consequências. Visivelmente, pode-se notar que não são apenas estes os que provocam as queimadas, uma vez que muitos focos de incêndios estão longe, muito longe de qualquer estrada. Cansei de contar quantas queimadas vi ao longo desses tantos quilômetros rodados, mas não me cansei de perguntar: por que isso ainda acontece? Será que a educação do povo brasileiro ainda anda tão mal que não foi-lhe ensinado os perigos e prejuízos causados pelas queimadas? Não basta, porém, culpar somente a educação falha sobre o assunto. Talvez tivéssemos de abrir um imenso debate em nível nacional, para esclarecimentos e policiamento de tais práticas. Duvido muito, porém, se teria o efeito desejado. Quem provoca queimadas, as pratica em sã consciência. Não saberiam, por exemplo, os fumantes, que a brasa do cigarro e o capim seco são uma combinação altamente combustível. Estariam os rancheiros e fazendeiros corretamente cientes de que queimar o capim pode ter um resultado rápido, mas que provoca imensos malefícios em longo prazo. Acho que todos estão a par disto, mas que não se importam muito. Afinal de contas, neste Brasil que muitos querem mudar, mas que continua o país que todos conhecemos bem, o bem coletivo não importa. Vale-se mais o bem privado e os benefícos a curto prazo que se possam ter de tudo. Com isso, entra ano, sai ano, queimadas pipocam por todos os cantos, em todos os ambientes e todos nós saímos perdendo.

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