No interior de São Paulo, aquele velho problema: para facilitar a
colheita da cana, muitos agricultores acabam fazendo queimadas.
Um perigo para o meio ambiente e para a saúde das pessoas.
É um perigo tão sério que um promotor processou o
estado por não conseguir fiscalizar e evitar as queimadas. E ele
ganhou a ação. Em todo o Brasil, só este ano, já foram mais de
25 mil focos de queimadas.
É no centro-oeste paulista que se concentra a
maioria das usinas de cana do estado. E para extrair a riqueza
da terra, o fogo ainda é usado como ferramenta. Desde 2007, o
promotor Jorge João Marques de Oliveira move ações para proibir
a queima da palha de cana. Agora, a Justiça Federal determinou
que o governo estadual indenize os municípios que são
prejudicados pela fuligem.
A cidade de Jaú vai receber R$ 1 milhão. Já
Bocaina, Mineiros do Tietê e Itapuí, R$ 500 mil cada. As cidades
devem aplicar a indenização em programas de recuperação
ambiental e na área da saúde.
“O Ministério Público não é contra o plantio e a
cultura canavieira. O que nós não queremos e não podemos mais
suportar são as queimadas”, destaca o promotor Jorge João
Marques de Oliveira.
Uma lei estadual proíbe a queima da cana durante o
dia em São Paulo. Ela pode ser realizada à noite. Segundo a
legislação, quando a umidade relativa do ar ficar abaixo de 20%
a queimada fica suspensa.
Somente esta segunda-feira (14), foram registrados
mais 2,5 mil focos. Pará, Mato Grosso, Tocantins e São Paulo são
os estados com mais incidência de queimadas. Do início do ano
até agora, foram quase 256 mil focos monitorados em todo país.
“O problema das queimadas na época do inverno é
que o ar, quando você tem altas pressões, o que típico do
inverno, retém a poluição”, explica a meteorologista Rita de
Cássia Cerqueira.
A fuligem se acumula nas casas. “É sujeira, é
aquele pó e a gripe que dá um todo mundo. Isso faz um mal”,
reclama uma senhora.
Nas ruas, é difícil evitar os efeitos da poluição.
“Eu tenho rinite, já tenho problema alérgico. Então, fica mais
difícil ainda”, conta o estudante Marcelo de Oliveira. “O tempo
seco já é horrível. Com as queimadas, fica muito pior”, diz a
dona de casa Aparecida de Souza.
Em um hospital, o número de inalações chega a
dobrar durante o período da safra. “As mais acometidas são as
crianças, que acabam tendo problemas respiratórios e alérgicos
de asma e bronquite”, alerta o médico José Augusto Neves Filho.
Condenado por não conseguir fiscalizar e evitar, o
governo do estado ainda pode recorrer da decisão.