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     03/11/2011            
 
 
    

Com a chegada do período de chuvas na região do Brasil Central cessam as preocupações com os graves problemas das queimadas e dos incêndios florestais nos campos, que muitas vezes alcançam grandes proporções e causam sérios prejuízos econômicos, ambientais e sociais. Cabe, entretanto, perguntar: até quando, em toda estação seca na região, teremos que conviver com essas ameaças?

Extensas áreas de pastagens são queimadas causando a morte de plantas, aves e animais, inclusive de bovinos, já debilitados pela falta de alimentos nas pastagens degradadas, que predominam na pecuária extensiva da região. Toneladas e toneladas de gás carbônico são emitidas para a atmosfera, contribuindo significativamente para elevar ainda mais os índices de emissão desse gás de efeito estufa (GEE), que é tido como um dos principais responsáveis pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas.

 
 
Esta é uma situação caótica e recorrente, fruto da falta de consciência e preparo dos produtores rurais, do descaso e da omissão das autoridades públicas, e da falta de comprometimento da sociedade civil e das organizações não governamentais (ONGs).
 
Os produtores rurais não têm consciência dos riscos que a vegetação seca apresenta em relação à ocorrência de queimadas, em especial, as pastagens ressequidas em consequência da longa estiagem e a palhada que recobre o solo nas áreas sob sistema plantio direto (SPD).
 
Na maioria das propriedades rurais da região do Brasil Central, principalmente durante a estação seca, não se observa a utilização de aceiros e da queima controlada da vegetação das áreas que margeiam as estradas e rodovias para evitar o surgimento de focos de queimadas e seu consequente o seu alastramento por amplas áreas.
 
 
 
Nas pequenas propriedades, em especial nas áreas de assentamentos, ainda é comum o uso das queimadas para o preparo das áreas para o plantio dos cultivos de subsistência. Esta é uma prática centenária e enraizada na cultura do nosso homem do campo, mas o fato dela perdurar também é fruto do descaso e omissão dos órgãos competentes, em especial, o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
 
Nas margens das rodovias federais e estaduais, nas áreas de domínio do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e do Departamento de Estrada de Rodagem (DER), respectivamente, pode-se observar a vegetação seca ou tórrida, sem nenhum manejo (corte ou roçagem), constituindo-se num verdadeiro barril de pólvora, pronto para iniciar os focos de queimadas. 
É preciso reconhecer que esses são locais de trânsito de vagantes ou mesmo de pessoas de pouca educação, que acendem fogo para se aquecerem do frio da madrugada, utilizando capim e galhos secos da vegetação arbustiva, mas que não eliminam o fogo ao deixarem o local, ou atiram bitucas de cigarros ainda acessas. Então vem o vento e se encarrega de dar corpo e espalhar as chamas rapidamente. Em pouco tempo a catástrofe está instalada e a estrada fica coberta com tanta fumaça, que reduz a visibilidade dos motoristas e, muitas vezes acaba provocando graves acidentes de trânsito. 
 
Quando chamados à responsabilidade e dever de manter limpas as áreas de domínios das rodovias tais órgãos dão a velha desculpa que não tem recursos, como se tal argumento os eximissem da culpa. Recentemente produtores do Triângulo Mineiro conseguiram convencer o Ministério Público para marcar uma audiência pública com a participação destes órgãos, além da Polícia Rodoviária Federal, Corpo de Bombeiros e prefeituras municipais. 
 
Creio que essa pode seu uma iniciativa que desperta a consciência dessas autoridades e mobiliza o setor para que se discuta e envidem esforços visando à implantação de medidas preventivas, adotadas de forma coletiva, sistemática e participativa se, afinal, pretendemos ter um meio ambiente mais saudável. Iniciativas como essa contribuem para a construção da própria democracia, e vale lembrar que nesse sistema quem está organizado faz e quem não está pega feito e paga o preço.
 
 
Em muitos dos novos plantios florestais também não se nota a adoção de medidas de prevenção como as citadas anteriormente para as áreas de lavouras e de pastagens, além da construção de mirantes que permitem o monitoramento permanente, a longa distância, identificando focos iniciais de queimadas, possibilitando o deslocamento de patrulhas anti-incêndio, devidamente preparadas.
 
Será que os mentores e os responsáveis pelo Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Programa ABC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estão cientes dos riscos permanentes das queimadas para as pastagens na entressafra e para as áreas de lavouras conduzidas sob o sistema plantio direto, que se apresentam cobertas com palhada no período da seca? 
 
Será que têm idéia dos riscos dos incêndios florestais para as áreas de reflorestamento e de integração lavoura-pecuária-floresta, que foram financiadas com dinheiro público pela linha de crédito do referido Programa?
 
Cumpre ressaltar a necessidade da realização de uma campanha massiva e permanente de conscientização dos riscos das queimadas e da necessidade imperiosa da adoção de medidas de prevenção, de forma sistemática e coletiva, envolvendo os três níveis de governo: federal, estadual e municipal, as entidades representativas dos produtores, em especial a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e demais envolvidos do setor do agronegócio.
 
Vale sempre lembrar que é melhor prevenir do que remediar, visto que nesse caso o remédio chega sempre tarde, quando o paciente (a vegetação) já virou cinzas.
 
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Maurício Carvalho de Oliveira
27/10/2011 - 13:11
Senhor Ronaldo,
Seu artigo é de grande relevância para as autoridades e para toda a sociedade, principalmente para nós que residimos na região do Cerrado. A pergunta é. Até quando teremos que conviver com essa triste realidade dos incendios nesse bioma! Será que todas essas instituições que você menciona em seu artigo não são capazes de minimizar esse quadro caótico porque passamos? É preciso mais coordenação, é preciso de ação no campo. Discussão, reunião sobre sustentabilidade, basta. Vamos por esses conceitos na prática como você sugere. Parabéns!

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