RESUMO: A composição botânica e qualidade (PB e DIVMO) de uma pastagem natural sob pastejo, submetida à queima e práticas de manejo alternativas às queimadas, foi avaliada durante um ano. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com 3 repetições. A queima bienal teve maior proporção de gramíneas nativas hibernais e material senescente, e menor proporção de gramíneas nativas estivais. A pastagem natural melhorada, por correção e adubação do solo, apresentou maior contribuição de ciperáceas e tendência de maior participação de leguminosas nativas. A qualidade da forragem foi melhor nos tratamentos melhorados e inferior no queimado, sendo intermediária naqueles sem queima e sem roçada.

PALAVRAS-CHAVE: queima, melhoramento, espécies nativas, proteína, digestibilidade, pastejo

ABSTRACT: The botanical composition and quality (CP and IVOMD) of native pasture under grazing, submitted to burning and alternative management practices, was evaluated during one year. The experimental design was a completely randomized, with three replications. The bienal burning had more proportion of winter native grasses and dead material, and less proportion of warm season native grasses. The improved native pasture through lime and fertilizers showed a greater contributon of ciperaces and a tendency of greater contribution of native legumes. The quality as CP and DIVMO was lower for burning, higher for pasture improved treatments, and intermediates for other treatments.

O fogo é utilizado extensivamente pelos pecuaristas sobre os mais diversos ecossistemas de pastagens naturais do mundo. As prerrogativas para o uso sistemático do fogo são a eliminação das sobras envelhecidas de pasto, controle de invasoras, redução dos riscos de incêndios, entre outros. A freqüência e intensidade das queimadas sobre a vegetação determinam distintos graus de alterações na flora, devido às diferentes estratégias apresentadas pelas plantas quando submetidas a este distúrbio. Plantas prostradas parecem ser mais suscetíveis à queima do que espécies de crescimento ereto, cujos pontos de crescimento estão mais protegidos no interior da touceira (ESTIVALET JR. & JACQUES, 1997). A redução no vigor de algumas espécies forrageiras, junto com a perda de fertilidade do solo favorecem o surgimentos de espécies oportunistas (ROSENGURT, 1943) e geralmente de baixo valor forrageiro. A melhoria da qualidade da pastagem após o fogo é temporária (CASTILHOS & JACQUES, 1984) e avaliações com animais fistuladas mostram que o uso do fogo com o propósito de aumentar a qualidade da forragem pode ser uma prática dispensada, já que os animais são capazes de selecionar uma dieta semelhante em áreas com e sem queima (BRÂNCIO et al., 1997). Com o objetivo de verificar a ação do fogo e de manejos alternativos às queimadas sobre a composição botânica e qualidade da pastagem nativa, foi conduzido o presente trabalho.

MATERIAL E MÉTODOS

• O trabalho foi realizado no município de André da Rocha, na região dos Campos de Cima da Serra do RS, durante um ano, entre 97/98, em pastagem natural característica da região. As áreas de pastagem natural estudadas apresentavam-se sob distintos manejos, os quais se seguem: sem queima e sem roçada há 32 anos; sem queima há 32 anos e roçada anualmente; melhorada há sete e 24 anos com correção a cada 3 a 4 anos e adubação anual do solo, e introdução de espécies cultivadas hibernais; queimada há mais de 100 anos numa freqüência bienal, sendo todas as áreas pastejadas. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com três repetições. A avaliação da pastagem foi realizada a cada 45 e 90 dias em amostras cortadas à 5 cm de altura acima do nível do solo, dentro das gaiolas de exclusão ao pastejo. As amostras da pastagem posteriormente foram separadas manualmente em gramíneas nativas estivais e hibernais, leguminosas nativas, ciperáceas, espécies indesejáveis e material senescente; e nos tratamentos melhorados há sete e 24 anos também incluíram-se as gramíneas e leguminosas cultivadas hibernais. Posteriormente, as amostras foram submetidas aos procedimentos de rotina para determinação do nitrogênio e estimação da digestibilidade in vitro da matéria orgânica (FREITAS, 1991). A qualidade foi estimada sobre as amostras de forragem verde seca. O efeito dos manejos sobre as variáveis estudadas foi avaliado através de análise de variância, e as médias foram comparadas pelo teste de Waller-Duncan a um nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O longo histórico de queimadas freqüentes sobre a pastagem natural modificou de forma acentuada a composição botânica (Quadro 1). A redução na contribuição das gramíneas estivais em favor das hibernais ocorreu basicamente em função da grande freqüência de Piptochaetium montevidense, uma espécie oportunista e que ocupa as áreas de solo descoberto, juntamente com espécies indesejáveis. As espécies indesejáveis tiveram maior contribuição nas áreas queimadas e naquelas só pastejadas. No tratamento roçado a contribuição de gramíneas nativas hibernais também foi expressiva devido à participação dos gêneros Briza e Piptochaetium. Embora a queima tem por objetivo a redução do material senescente e de espécies indesejáveis, a contribuição deste último foi similar nas áreas queimadas e naquelas sem qualquer tipo de manejo a não ser o pastejo. As leguminosas tiveram pouca presença na área queimada, a qual não diferiu dos tratamentos sem queima e sem roçada, e 24 anos melhorado, embora nesses últimos a freqüência fosse alta, mas em função da grande produção de fitomassa, ficou diluída quando expressa em percentual sobre a produção total. As gramíneas cultivadas hibernais somente foram introduzidas na área melhorada há 24 anos. Os maiores níveis de PB e DIVMO ocorreram na pastagem natural sob os tratamentos sete e 24 anos de melhoramento, seguidos da roçada. Na área queimada a qualidade da forragem foi inferior, basicamente em função da presença de espécies mais grosseiras, principalmente andropogôneas, que são favorecidas pelos manejos empregados. A área sem queima e sem roçada há 32 anos apresentou qualidade intermediária.

CONCLUSÕES

Os resultados da composição botânica demonstram que a queima é ineficiente como prática de limpeza da pastagem natural. A roçada e o melhoramento por correção e adubação do solo favorecem as espécies forrageiras de melhor qualidade. A queima por longo período da pastagem natural resulta numa redução na qualidade (PB e DIVMO) proteína bruta da forragem disponível em relação aos tratamentos melhorados, enquanto áreas sem queima e sem roçada revelaram uma posição intermediária.

3. ESTIVALET JR., C.N.O.; JACQUES, A. V. A. Efeito da ceifa, queima e diferimento sobre a disponibilidade e composição botânica de uma pastagem natural. Porto Alegre, RS. UFRGS, 1997. (não publicado)

Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem entre si pelo teste de Waller-Duncan a um nível de 5% de probabilidade.