Nesta época do ano a relva, capim vedado, ressequido ao longo das rodovias, com a ausência de chuvas, passa a ser queimado pelos incendiários inimigos da mãe natureza. Cenário cruento esse, na falta de cuidados da parte do estado, seus gestores, seja mandando roçar toda a macega à margem da estrada, ou mesmo fiscalizando e punindo a ação mesquinha dos incendiários ou, quem sabe, inovando mediante parceria com os criadores, onde o capim em vez de ficar vedado, seria aproveitado como pasto pelo gado, repete-se anualmente o flagelo dos incêndios com efeitos nocivos, prejuízos, a todos, ao bioma, acidentes, transtornos nas rodovias desencadeados pela fumaceira oriunda das Queimadas criminosas. Os danos seriam menores se o fogo ficasse restrito aos corredores, mas, os acidentes continuariam atormentando o trânsito, entretanto, o danado do vento não sabe pensar, pressentir o perigo, isto, faz o fogo alastrar depressa, lançando faíscas ao longe, abarcando tudo, Flora e Fauna silvestre. Caminhando pelas Queimadas é possível encontrar vestígios dessa sanha escabrosa, destruidora: pássaros, seus filhotes, ninhos, pequenos mamíferos, os mais lerdos, ou aqueles encurralados pela chama mortífera. Árvores como o pequizeiro, mangabeira, cajuzeiro, marmelada silvestre, baruzeiro, ingazeiro e miríade de outras, em Floração, não frutificam, pois suas flores são destruídas pelas labaredas mortíferas. Em tempos idos, me lembro muito bem, quando dirigente da Acar-Goiás, então, serviço de extensão rural, os organismos responsáveis pela fiscalização, proteção do Meio Ambiente, faziam campanhas através da mídia, cartazes alusivos como aquele: o verde é vida, o fogo é morte e outros, eram afixados nos lugares estratégicos, em interação com eles, escritórios municipais da Acar promoviam círculos de palestras alertando as comunidades rurais e, mesmo, urbanas, sobre os efeitos nocivos das Queimadas. Essas campanhas, afixação de placas, ao longo das rodovias, em vez de serem ampliadas, melhoradas, os clubes 4-S: Saber, Sentir, Saúde, Servir, constituídos de jovens rurais motivados, treinados para atuarem como verdadeiros guardiões contra os incêndios, Queimadas, em defesa do verde, feneceram, acabaram, o lugar que ocupavam, ficou vazio, nada sucedeu, o “nadica de nada” soçobrou. As Queimadas perniciosas prosseguem, e, impunes, com os incendiários cultivando o hábito sorrateiro, por meio do toco de cigarro jogado, displicentemente, a ermo, fumando, luxuosamente a vida, degradando de forma reincidente e indiferente a mãe natureza, isso se agrava mais ainda, quando coloca fogo direto, como fez consoante a história, Nero, Imperador de Roma, pelo prazer sádico de poder contemplar, ao longe, as labaredas incandescentes, sem se preocupar com seus efeitos sinistros, danosos a vida, ao Meio Ambiente e ao planeta. Prevenir deveria ser política incessante do estado valendo-se, para tanto, do artigo 174 da constituição, mas a falta de vontade, vontade soberana dos gestores contratados pelo voto, imediatismo, leva o poder público a atuar como corpo de bombeiros, nem bem apaga um incêndio, surge outros, os custos tornam-se exacerbados, a eficiência minguada, a natureza, a cada dia, mais degradada. Tudo acontece porque a sociedade prossegue indiferente ao seu altivo papel, no sistema republicano, de partícipe, construtora de sua própria história, senhora de seu próprio destino, dona de seu nariz, por isto, tem que estar engajada na vida política de seu município, estado e país, controlando, questionando, de forma ordeira, os atos dos governantes. Órfã da escola, nunca foi preparada, educada para exercitar seu dever cívico no sistema democrático, democracia sem participação da sociedade contribuinte é ilusionária, gera descrença no seio da sociedade, o olho do dono é que engorda o boi. Nosso país, com a república, tornou-se propriedade de todos brasileiros, dessa forma, passaram eles a ter implicitamente, direito a dividendos ou bonificações. Então você pode, com certa desconfiança, questionar, que dividendos são estes que nunca recebi ou fui contemplado? Entretanto, estaria recebendo-os se a escola houvesse lhe instruído para a vida política, recebendo-os, na forma de educação, saúde, segurança, qualidades e muitos outros serviços razoáveis, se a política fosse entendida como a arte de racionalizar a administração pública minimizando custos de obras e serviços, sem ferir qualidade, tendo como corolário a maximização de benefícios, bem estar, fazendo a comunidade feliz. Todavia, para que ela seja praticada da forma como foi concebida, você contribuinte, tem que controlar os gestores públicos participando da vida política da cidade, lugar onde mora. A natureza vem sendo incendiada, há tanto tempo, por falta dessa participação, maior virtude pública do processo democrático. Assim como sua empresa, negócio, para funcionar bem, precisa de sua presença, fiscalização, a República empresa de todos brasileiros, da forma como foi instituída, para ser governada a contento, carece de sua contribuição, seu controle, se necessário, cutucando-os com vara curta. É esse leitor contribuinte, o direito que você adquire com o dever de votar, e, este ano, haverá, em todo país, eleições, o voto quando consciente é sua arma mais valiosa, poderosa na república, de forma que, você deve usá-lo para premiar os bons governantes, ou candidatos ao governo e punir os ruins, promovendo, inclusive, a alternância do poder, não deixando que nenhum partido, grupo, patota, apodreça nos cargos públicos, mormente quando eletivos, quanto mais seu voto contribuir para troca de um gestor por outro diferente, partido oposto, mais benefícios carreia a sua comunidade, o inverso é verdadeiro, quanto maior tempo fica no cargo, mais concentra poder, mais premia a patota que o cerca. A concentração de poder conspira contra a liberdade, portanto, como bom democrata, eleitor, você tem que ser adversário ferrenho da perpetuação nos cargos públicos eletivos. Toda perpetuação concorre para o desleixo na administração do estado tendo como consequência, a impunidade dos incendiários da mãe natureza, destruição da floresta em festa, como as caraíbas, ipês, acácias ao largo das rodovias, nesta época, em Floração luxuriante, alegrando viajores, caminheiros que passam acabrunhados com as rodovias congestionadas, ou então, esburacadas por falta de vontade deles, contratados pelo voto para bem governar essa grande empresa, chamada Brasil, patrimônio comum de todos brasileiros.
(*) (Josias Luiz Guimarães, veterinário pela UFMG, pós-graduado em filosofia política pela PUC-GO, produtor rural) |