Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE
Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos - CPTEC
Divisão de Satélites Ambientais - DSA
Detecção de Queimadas nas Imagens do Satélite Geoestacionário GOES-10
Versão 4.0, 01/Março/2007
Alberto Setzer e Marcos C. Yoshida
A detecção de queimadas
para a América Latina; feita nas imagens GOES-10 recebidas
a cada três horas (horários sinóticos) pela DSA/CPTEC, e a cada 15 minutos (excluindo horarios sinoticos e se o satélite
efetua estas transmissões. O satélite é geoestacionário,
estando a 29.400 km acima da superfície, na longitude de
75 graus oeste sobre a linha do equador, e foi lançado pelos
EUA em 2002. O algoritmo é baseado em limites nos canais 1
(0,63um; visível), 2 (3,9um; infra-vermelho médio)
e 4 (11,0 um; infravermelho), dando-se maior importância ao
canal 2 por ser o mais adequado
para temperaturas como a de vegetação queimando,
com ~700 K (~427ºC); os outros dois canais são usados
para eliminar detecções errôneas durante o dia,
causadas por reflexão solar em algumas superfícies,
uma vez que o canal 2 responde tanto a emissão termal como
a reflexão solar em superfícies terrestres.
Os limiares dos três canais
foram obtidos empiricamente pela análise de milhões
de píxeis em imagens GOES no período de queimadas.
"Píxel" é o menor elemento da imagem (grão).
Temperatura no caso, é a "temperatura de brilho", Tb, indicada
pelo imageador do satélite com valores sempre menores que
da temperatura real da superfície (ver Nota 2 abaixo). O sensor
do GOES-10 satura no canal 2 com Tb~340 K (67ºC), mas nos cálculos
usa-se 343 K (70ºC) como margem de segurança. Neste caso,
albedo é a porcentagem de luz solar refletida pela superfície
apenas no canal 1 do GOES-10. Veja também a Nota 3 no final.
Considera-se queimada
qualquer píxel com albedo (refletividade) menor que 3%,
com temperatura de brilho no canal 2 maior que 308 K (35ºC)
e no canal 4 maior que 263 K (-10ºC), e com a diferença
destas temperaturas maior que 16 K (16ºC); estes são
os casos quando quase não há iluminação
solar, ou seja, de detecção mais simples..
Para albedos entre 3% e 12%, portanto
na faixa comum de iluminação solar, a temperatura
no canal 2 tem de ser maior que 318 K (45ºC) e a no canal 4
maior que 263 K (-10ºC); o limite superior do canal 4 é
308 K (35ºC) para eliminar a combinação de solos
aquecidos e refletivos, que causam falsas detecções, e
a diferença entre o canal 2 e 4 deve ser maior que 22 K (22ºC)
para reforçar ainda mais a seletividade.
Para albedos entre 12% e 24%, de
superfícies muito reflexivas, o canal 2 deve indicar mais
do que 323 K (50ºC), a temperatura do canal 4 estar entre 263 K (-10ºC)
e 303 K (30ºC), e a diferença entre os dois canais ser
maior que 25 K (25ºC).
Despreza-se os casos de albedos acima de 24%, supostamente
causados por reflexos intensos e diretos em corpos de água,
por solos muito refletivos, e por ruídos nas imagens.
E ainda, despreza-se o píxel
identificado como queimada supondo-se efeito de reflexão
solar em corpos d'água, solos refletivos ou nuvens, se:
a) caso de água - na matriz de 21 por 21 píxeis nele
centrada, excetuando-se o próprio, qualquer píxel tem albedo
maior que 80%.
b) caso de água - na matriz de 21 por 21 píxeis
nele centrada, excetuando-se o próprio, qualquer píxel
tem albedo maior que 60% e ao mesmo tempo, temperatura no canal
4 maior que 15ºC;
c) caso de solos - na matriz de 09 por 09 píxeis nele centrada,
excetuando-se o próprio, 25% ou mais dos píxeis têm
temperatura no canal 2 maior que 45ºC.
d) caso de nuvens - na matriz de 3 por 3 píxeis nele centrada,
excetuando-se o próprio, 75% ou mais dos píxeis têm
albedo maior que 24%.
Adicionalmente, são ativados outros filtros
no processamento das imagens, com a finalidade de eliminar falsas
detecções de queimadas devido à presença
de ruído causado por falhas e variações
diversas do imageador do GOES-10.
Assim, despreza-se o processamento
de qualquer imagem GOES-10 que:
a) no período noturno tenha 300 ou mais focos detectados;
b) no período noturno tenha tido aumento de mais de 50 focos
em relação ao último horário sinótico;
c) no período diurno tenha 2.000 ou mais focos.
Imagens diurnas, nesse contexto, são as geradas
entre 10:45 h e 23:45 h UTC, também chamadas de "11 h" UTC e "00
h" UTC; noturnas, são as demais.
Quanto a linhas específicas
com ruído causado pelo imageador do GOES-10, são eliminadas
do processamento todas com:
a) dez ou mais "queimadas" detectadas no oceano;
b) cincoenta ou mais píxeis contíguos de "queimadas";
c) trezentos ou mais píxeis de "queimadas";
d) 97% ou mais de píxeis com valor zero no canal visível
(pois mesmo de noite o esperado são valores próximos de
zero devido ao ruído de fundo, e não zero).
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Notas.
1) O algoritmo e os limiares utilizados
são conservativos com a finalidade de eliminar detecções
duvidosas, em particular nas áreas de Cerrado e Caatinga;
os focos considerados representam apenas uma fração
dos que realmente estão ocorrendo.
2) O imageador do satélite mede a
"radiância" termal, em Watts/(metro quadrado por stereoradiano
por centímetro). Através da função de Plank
na faixa de comprimento de onda de atuação do sensor,
a radiância é convertida para "temperatura de brilho",
também denominada "temperatura de radiância" ou "temperatura
de corpo negro"; esta é a temperatura usada no processamento
e indicada na tabela acima.
Para se obter a temperatura da superfície
existente na Terra, a temperatura de brilho deve ainda ser compensada
pela emissividade e reflectância da superfície imageada,
e pelos efeitos (atenuação, reflexão, etc.) que
a atmosfera causa na radiação ótica medida pelo
satélite; esta temperatura real da superfície não
é utilizada no processamento. A função de Plank
relaciona somente a emissão de radiação eletromagnética
de um "corpo negro" em função de sua temperatura e do
comprimento de onda.
3) Dos três sensores usados
na detecção de queimadas peloCPTEC/INPE, o do satélite
GOES é o menos apropriado pelo fato de estar muito mais longe
(a 29.400 km) da superfície que o sensor AVHRR dos satélites
NOAA (a 810 km) e que o sensor MODIS dos satélites TERRA e
AQUA (a 700 km). Para uma mesma queimada, o GOES recebe o sinal cerca
de 600 vezes mais fraco, mesmo considerando o diâmetro maior de
seu telescópio (31 cm ao invés de 20,3 cm no AVHRR). Adicionalmente,
o píxel GOES tem 4 km de resolução no nadir enquanto
que o do AVHRR e do MODIS tem 1,1 km resultanto em um fator de área
de cerca de 16 vezes.
4) Este documento para
O algritmo GOES-10 substitui as versões::
- 2.0 de 29/ago/2002 referente
ao GOES-8;
- 3.1 de 09/Jul/2003;
- 3.2 de 19/Set/2003;
- 3.3 de 10/out/2003;
- 3.4. de 17/jan/2004 (alterado apenas horário de ruído
noturno).